Preocupados com o atraso no pagamento das indenizações aos familiares das vítimas do acidente da Chapecoense, senadores pressionaram Petrobras, Caixa e outras estatais a reavaliarem seus contratos com a Tokio Marine. O assunto foi tratado, nesta quarta-feira (23), quando a CPI que investiga o acidente do acidente com o voo da Chapecoense em 2016, recebeu o executivo de finanças da Petrobras, Ricardo Rodriguez Besada Filho, e o presidente da seguradora no Brasil, José Adalberto Ferrara.
Para o relator da comissão, senador Izalci Lucas (PSDB-DF), a Petrobras e a Caixa Econômica Federal deveriam ter levado em consideração a disputa jurídica acerca do pagamento das indenizações antes de fechar negócios, até para não haver risco de dano à imagem das companhias.
— A Petrobras não enxergou problema ético ou comercial ao firmar contratos com empresa de um grupo econômico que não está honrando seus compromissos e pagamentos? Nossa esperança é que as vítimas sejam indenizadas. Quem tem operação com essas empresas para a imagem, sinceramente, é péssimo — avaliou.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) foi na mesma linha e classificou de escândalo inadmissível a demora no pagamento das indenizações.
— Não vou poupar esforços como senador, usando leis, Constituição, ética e moral, para estimular que a Tokio e outras seguradoras tomem a iniciativa de procurar uma solução ética e humanitária [...] Há no mínimo nuvens de dúvidas e vou fazer tudo dentro da lei para que essas nuvens cheguem ao conhecimento das empresas com as quais tenho algum vínculo de responsabilidade.
O convite feito pela CPI foi para o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, que enviou um representante. O executivo de finanças, Ricardo Rodriguez Besada Filho, disse que a companhia é solidária à dor dos familiares e espera que a comissão conclua seus trabalhos da melhor forma possível.
Segundo ele, não havia nenhuma informação factual jurídica que pudesse fazer com que a Caixa não acatasse a participação da Tokio Marine, por exemplo, numa licitação.
— Monitoramos permanentemente o mercado e, à luz da fatos novos, vamos tomar as ações necessárias para manter os contratos passados vigentes e futuros aderentes à legislação em vigor. Se qualquer informação nova surgir, seja ao fim dos trabalhos desta CPI, com o seu relatório, seja outras informações factuais, jurídicas, que servem como subsídios, tomaremos a decisão prontamente — explicou o executivo.
O presidente da Tokio Marine brasileira, José Adalberto Ferrara, que também prestou depoimento nesta quarta-feira, argumentou que o ramo brasileiro do grupo nada tem a ver com o seguro do acidente.
Do total recebido em prêmios pela Tokio Marine, Ferreira revelou que apenas 1,1% vem do setor público, ou seja, R$ 495 milhões. Deste valor, R$ 206 milhões foram recebidos da Petrobras. À empresa petrolífera, a Tokio Marine já pagou R$ 79,5 milhões em sinistros.
— Em nossas últimas operações com a Petrobras, até o ano passado, participávamos como cosseguradores. Não éramos a líder da operação. Somente este ano passamos a participar diretamente de licitações como seguradora líder. Temos cinco apólices vigentes neste momento. Temos uma apólice de risco de petróleo, risco de engenharia, transporte internacional — explicou.
Os números chamaram atenção do relator Izalci Lucas, que considerou alta a rentabilidade da seguradora.