“Dizem que a medida de um homem se tira pela firmeza de suas convicções, pela abrangência de seus interesses e pela altura de seus ideais. Sob quaisquer dessas métricas, Johann Friedrich Theodor Müller foi um gigante.” Com essas palavras, o senador Esperidião Amin (PP-SC) abriu nesta quinta-feira (31) a sessão especial do Senado para homenagear o bicentenário de Fritz Müller, cientista, professor e matemático alemão naturalizado brasileiro que colaborou com a teoria da evolução desenvolvida por Charles Darwin.
Autor do requerimento para a homenagem, Amin declarou que, apesar de a história ter relegado ao germano-brasileiro o crédito de apenas figurante, Müller teve tanta participação quanto Darwin na validação científica da teoria da evolução das espécies. Segundo o parlamentar, Fritz Müller não apenas ajudou a fundar as bases da ciência moderna, mas também contribuiu de forma significativa para a fundação e crescimento do município de Blumenau, em Santa Catarina, na década de 1850.
— A ligação de Fritz Müller com a cidade é tão forte que ele, certa vez, escreveu: "Nunca parei de desejar o dia em que pudesse voltar ao Itajaí", ao rio. Foi um dos fundadores da cidade e viveu por 34 anos na região. Sua importância para o povo catarinense e blumenauense é tamanha que foi sua a primeira estátua da cidade, a primeira estátua de um cientista erguida no Brasil e com público, o que é raro — declarou.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) agradeceu pela oportunidade de participar da sessão especial e de ter, segundo disse, adquirido um pouco mais de aprendizado. Para o parlamentar, a homenagem é meritória e justa, inclusive pela comemoração também do bicentenário da Independência do Brasil em 2022.
— E celebrando o bicentenário de um ilustre alemão que adotou o nosso país e deixou sementes importantes na nossa nação. A gente fica encantado. Apesar de sempre ter ouvido falar em Fritz Müller, eu não tinha o conhecimento da amplitude. A trajetória desse naturalista, as correspondências trocadas com Charles Darwin, a contribuição mútua para o progresso da ciência e da nossa evolução são mesmo fenomenais.
A sessão do Senado referendou simbolicamente requerimento do deputado Rodrigo Coelho (Podemos-SC) aprovado na Câmara com o mesmo objetivo. A deputada federal Angela Amin (PP-SC) ressaltou que Fritz Müller foi um abnegado que se dedicou a entender e explicar os mistérios que cercam todas as pessoas.
Nascido em 31 de março de 1822 na Alemanha, onde se formou em matemática, história natural e filosofia, Müller veio para o Brasil em 1852, descontente com a Revolução de 1848 que acontecia no país dele. Publicou várias obras naturalísticas, que contribuíram e projetaram o Brasil no cenário da ciência europeia. O botânico morreu em 21 de maio de 1897, aos 75 anos, na casa de sua filha, em Blumenau.
Angela Amin mencionou que estudos produzidos em Santa Catarina serviram de alicerce para o desenvolvimento das ciências naturais. Segundo a deputada, foi Müller quem identificou espécies novas e revelou ao mundo a riqueza natural da costa e da Floresta Atlântica. Na obra e em cartas do naturalista, disse ela, há também registros pioneiros de preocupação do homenageado com a causa ambiental.
— Fritz pôs o Brasil no mapa de uma das maiores revoluções da ciência na história. O reconhecimento internacional dele como intelectual e como homem essencial para os avanços dos conhecimentos científicos da humanidade muito nos orgulha. São exemplos assim que nos dão a certeza de que a curiosidade, a criatividade e a pesquisa nos permitem avançar nas explicações sobre nossa própria existência.
Vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Fernanda Sobral considerou que as práticas de Fritz Müller mostram aos atuais estudiosos o jeito de fazer ciência. Ela falou que o homenageado trouxe benefícios não apenas científicos, mas também sociais, educacionais, políticos, administrativos e culturais. Ao dizer que o próprio Darwin reconheceu as dívidas com Müller, Fernanda declarou que Santa Catarina e o Brasil estão de parabéns por honrar e comemorar uma figura humana tão especial como ele.
— Nossa percepção é de que Fritz Müller, além de dignificar a ciência, investigando a natureza com isenção e altruísmo, foi educador de vanguarda, influenciou os costumes sociais, tendo sido também um dos mais importantes formadores da identidade catarinense, o que muito orgulha a todos nós — declarou.
Ao encerrar a solenidade, Esperidião Amin comentou que a independência verdadeira e completa de um país só se faz com conhecimento e educação. E que o Congresso Nacional dá esse testemunho, ao ter promovido a homenagem a Fritz Müller.