O relator-geral do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse nesta quinta-feira (1) que cabe ao governo propor uma solução para garantir a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 no próximo ano. Promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro e do candidato que lidera as pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, a manutenção do valor não está prevista na peça orçamentária para o próximo ano, o que segundo Castro foi uma “surpresa”.
— Para nós foi uma surpresa o governo não ter mandado. O Lula está prometendo, o Bolsonaro está prometendo. A nossa expectativa era de que ele tivesse mandado uma proposta dando o reajuste de 200 reais. Uma pessoa de oposição pode prometer, mas o executivo não precisa prometer, ele propõe. Nada o impede [...] Ele[ Bolsonaro] diz que vai continuar com esse valor no ano que vem, mas não propõe. Fica parecendo um discurso de candidato. O Legislativo está aqui para dialogar — disse o senador.
O governo enviou ao Congresso, nesta quarta-feira (31), a proposta para o Orçamento da União para 2023 com previsão de um benefício médio de R$ 405 para o Auxílio Brasil. O montante é R$ 195,00 menor que os R$ 600 pagos atualmente.
A Emenda Constitucional 123, promulgada pelo Congresso em julho, assegura Auxílio Brasil de R$ 600 até 31 de dezembro de 2022. A partir de janeiro, caso não haja uma nova mudança na legislação, o auxílio volta ao patamar de R$ 400.
Na mensagem encaminhada aos parlamentares, o presidente Jair Bolsonaro se limita a dizer que "o Poder Executivo envidará esforços em busca de soluções jurídicas e de medidas orçamentárias que permitam a manutenção do referido valor no exercício de 2023, mediante o diálogo junto ao Congresso Nacional para o atendimento dessa prioridade".
O relator avalia que a discussão sobre o projeto da lei Orçamentária para 2023 só deve avançar depois das eleições. Ele afirmou que vai se reunir com a equipe econômica do futuro presidente e com líderes partidários para discutir o Orçamento e buscar soluções para o Auxílio Brasil e a escassez de recursos para as chamadas despesas discricionárias, sobre as quais o governo tem liberdade de decidir. Ele ressaltou que o país apresenta déficit primário há 10 anos e enfrenta um cenário de aumento da dívida pública.
— Acho que antes das eleições o orçamento ficará parado. Nada deve acontecer — avaliou.
Marcelo Castro também criticou o governo pela proposta de reajuste de apenas 5% para os servidores públicos federais e afirmou que vai trabalhar para corrigir os vencimentos a um índice próximo do proposto para o Judiciário, que prevê aumento bem superior: 18% em dois anos. O senador destacou que grande parte dos servidores estão sem reajuste desde 2017 e que as perdas acumuladas chegam a 30%.
— Não estamos tratando de aumento. Estamos falando de reposição de perdas salariais que chegam a 30% para a maioria dos servidores do Executivo. É um grande problema que vamos enfrentar para equacionar. Qual é o nosso objetivo? fazer um estudo aprofundado na análise para que o servidor do Executivo, que normalmente é o que ganha menos, possa ter um reajuste próximo do reajuste do Judiciário.
Outros pontos criticados por Castro no Orçamento são a falta de aumento real do salário mínimo ( estipulado em R$ 1.302 para 2023) e a ausência da correção da tabela do Imposto de Renda (IRPF) cobrado de pessoas físicas.
A tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física não é corrigida desde 2015, o que obriga um número maior de brasileiros a pagar o imposto mensalmente. Atualmente, está isento do recolhimento mensal quem recebe até R$ 1.903,98. Marcelo Castro apontou que, na prática, os trabalhadores acabam sofrendo um “achatamento no salário”.
— Isso traz um achatamento muito grande no assalariado. Na campanha de 2018 essa [ o reajuste da tabela] foi uma das promessas mais enfáticas que o presidente Jair Bolsonaro fez e estamos no último ano e não foi proposto nenhum reajuste na tabela — assinalou.
Para Marcelo Castro, a decisão do governo de reservar parte dos R$ 19,4 bilhões em emendas do relator RP9 para o cumprimento do mínimo de gastos em saúde foi acertada.
— Não é peça de ficção. Nos outros anos, o relator era obrigado a fazer os cortes e isso é muito complicado. Como a LDO aprovou que o governo já teria que mandar a reserva, acho que nisso daí o governo fez corretamente. Podemos não concordar com distribuição e podemos remanejar de um lugar para o outro, mas foi bom governo já propor — apontou.