Após nove anos fechado e celebrando o bicentenário da Independência do Brasil, o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, em São Paulo, vai reabrir ao público na quinta-feira (8). Além de restaurado, modernizado e acessível, ele aposta também na pluralidade e em uma discussão crítica sobre as obras.
Para abordar assuntos controversos, a curadoria do museu vai utilizar recursos multimídia para propor novas visões sobre os objetos expostos. A expectativa é que passe a receber o triplo de pessoas que costumava procurá-lo, passando a 900 mil visitantes por ano.
Monumentos que homenageiam figuras e situações controversas, como estátuas de bandeirantes, serão encarados como documentos históricos, ou seja, obras que informavam ou refletiam sobre um modo de se pensar à época.
Agora, novas visões serão acrescentadas a esses objetos. “O contraponto serão outras visões da sociedade sobre o tema. Toda exposição terá uma tela de contraponto e uma questão que estamos discutindo é abrir editais para que as pessoas possam se inscrever para criar contrapontos para a exposição. Queremos outras vozes da sociedade dentro da universidade e dentro do museu universitário, para não ser uma fala única. Queremos um museu muito mais plural: é isso que a gente busca no Museu Paulista”, disse Ana Paula Nascimento, professora e curadora do museu.
Em sua primeira semana de funcionamento, o museu terá um horário especial e estará aberto das 11h às 16h. As visitas precisam ser agendadas pela plataforma Sympla e, até o dia 6 de novembro, a entrada será gratuita. O público que visitar o museu vai deparar com um espaço bem maior: ele hoje tem o dobro de área expositiva e terá um restaurante e um mirante. O mirante, no entanto, não estará disponível aos visitantes nesse primeiro momento: ele ainda não tem data para ser liberado ao público.
A reportagem daAgência Brasilesteve no museu no dia 1º de setembro. E, durante a visita, notou que alguns espaços ainda estavam em obras ou sendo finalizados. Em entrevista a jornalistas, o vice-diretor do museu, Amâncio Jorge de Oliveira, disse que nem tudo ficará pronto para a reinauguração.
“Temos alguns detalhes como, por exemplo, a nova área expositiva [uma área nova criada abaixo do edifício monumento] que tem ainda um tempo de preparação. Na verdade, a área ficará pronta, mas ela vai receber, nos próximos meses, a estrutura para a exposição Memórias da Independência. Então, a área de engenharia fica pronta, mas ele demorará um tempo para receber as exposições”, disse ele.
“De maneira geral, o prédio estará pronto, mas evidentemente, [vão faltar] alguns detalhes como, por exemplo, a lanchonete”, acrescentou.
Já o parque da Independência e o seu belo jardim francês deverão estar prontos no dia 6 de setembro, apenas um dia antes das celebrações do 7 de setembro no local. “Em 6 de setembro estará tudo pronto. Temos a restauração do jardim francês, que foi patrocinado pelo governo do estado de São Paulo, e estará plenamente revitalizado para o dia 6 de setembro”, afirmou Oliveira.
No novo museu serão apresentadas 12 exposições, 11 delas de longa duração [que podem durar entre três ou cinco anos] e uma temporária. As de longa duração foram divididas em dois eixos temáticos: Para entender a sociedade e Para entender o museu.
Já a exposição de curta duração Memórias da Independência ficará em cartaz por quatro meses, mas só será inaugurada em novembro. No total, serão expostos mais de 3,1 mil itens pertencentes ao museu e 562 itens de outras coleções, além de 76 reproduções efac-símiles. A maior parte dos objetos data dos séculos 19 e 20, mas há itens que remontam ao Brasil colonial.
No eixo Para entender a sociedade, que apresenta o universo do trabalho e a constituição dos espaços domésticos, por exemplo, estarão as exposições Uma História do Brasil, Passados Imaginados, Territórios em Disputa, Mundos do Trabalho, Casas e Coisas e A Cidade Vista de Cima.
Já no eixo Para entender o museu, que traz informações sobre a história de construção do edifício e seu ciclo curatorial, estarão as exposições Para Entender o Museu, Coletar: Imagens e Objetos, Catalogar: Moedas e Medalhas, Conservar: Brinquedos e Comunicar: Louças.
“No eixo Para entender a sociedade estão as exposições do piso térreo e do [andar] superior. São as maiores exposições, que têm relação com um trabalho de pesquisa que fazemos”, explicou Vânia Carvalho, docente do Museu Paulista e coordenadora da concepção e implantação das exposições de longa duração do Museu do Ipiranga.
“Já Para entender o museu tem a finalidade de mostrar os bastidores do museu, como o museu trabalha e concebe. É o que chamamos de quatro “cês”: coletar, catalogar, conservar e comunicar. Para cada uma dessas exposições, escolhemos um segmento das nossas coleções como, por exemplo, em conservar, utilizamos nossa coleção de brinquedos. Em comunicar, usamos nossa coleção de louças”, disse Vânia.
O famoso e imenso quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, também foi restaurado e estará novamente exposto no Salão Nobre do museu. Também há destaque para o grande número de objetos de Santos Dumont, entre eles, um de seus chapéus, e uma imensa maquete que reproduz o edifício monumento.
O novo espaço expositivo incluíra áreas que antes não eram acessíveis ao público, entre elas, salas que antigamente abrigavam a parte administrativa do museu.
Com isso, a área de exposições triplicou, passando de 12 para 49 salas. “Do ponto de vista arquitetônico, toda a parte superior do edifício foi modificada. Vamos ter uma área expositiva no andar superior do edifício monumento. O fato de as salas serem interligadas também é diferente. E teremos novas salas de exposição. Vamos ter um mirante, que não existia antes. Além disso, vamos ter recursos tecnológicos e de acessibilidade, o que é totalmente novo no museu”, observou Oliveira.
Além da acessibilidade física, com a inclusão de elevadores e rampas de acesso, todas as exposições foram pensadas para dar condições mais amplas de exploração do acervo pelo público. Para isso, serão dispostos 333 recursos multissensoriais.
Por todo o museu foram instaladas telas táteis, reproduções em metal, dioramas [maquetes tridimensionais], plantas táteis para localização dos visitantes, recursos audiovisuais, dispositivos olfativos, reproduções visuais e táteis e cadernos em Braille, entre outros. Todas as salas também vão contar com piso podotátil [superfície cuja rugosidade pode ser sentida pelos pés].
“Ele não é só um museu fisicamente acessível. Ele é acessível cognitivamente, com linguagem facilitada”, disse Vânia. “Queremos promover a sensação dos materiais. Nem tudo é feito com resina. Temos recursos multissensoriais em pedra, em metal, em porcelana, em tecido”.
A ideia, segundo ela, é que todas as pessoas possam visitar o museu juntas, tendo a mesma oportunidade de experiência. “Queremos que as pessoas possam entender o espaço do museu como um espaço de convivência da diversidade”, sintetizou Vânia.
Mais informações sobre o museu podem ser obtidas neste site . O agendamento para visita estará disponível a partir do dia 5 de setembro, às 10h.