A rainha Elizabeth II, que faleceu nesta quinta-feira (8), fez apenas uma visita oficial ao Brasil durante seu reinado e incluiu no seu roteiro uma visita ao Congresso Nacional. No dia 5 de novembro de 1968, a rainha e seu marido, o príncipe Philip, foram recepcionados por deputados e senadores em uma sessão solene. Elizabeth II discursou em inglês, apontou os desafios do Legislativo brasileiro para servir a um país de desigualdades continentais e desejou aos parlamentares sucesso nos seus esforços.
A sessão foi presidida pelo vice-presidente da República, Pedro Aleixo, no Plenário da Câmara dos Deputados, que recebeu naquele dia mais de 500 pessoas, segundo depoimento de Sarah Abrahão, então secretária-geral da Mesa do Senado, ao livro Por Trás da Mesa.
Elizabeth II disse estar “profundamente comovida” com a recepção promovida pelos brasileiros. Ela falou do que entendia ser a função dos congressistas, lembrando que o Parlamento britânico tinha, na ocasião, 700 anos, mas que havia se transformado muito durante esse período, “de acordo com as necessidades e circunstâncias”.
— Constitui essência do sistema parlamentar que ele seja dinâmico. O Parlamento é o meio através do qual os cidadãos comuns podem influenciar o modo como eles e o país são governados. Todo Parlamento deve passar por um processo de contínuo reajustamento e renascimento — afirmou ela. A tradução é do Diário do Congresso Nacional. A íntegra do discurso, em inglês, está disponível no portal da Câmara dos Deputados.
No caso do Brasil, a monarca observou que o Poder Legislativo precisava atender a “condições excepcionais e especiais” que eram resultado das características do Brasil.
— O vosso Congresso tem de legislar para mais de vinte estados, cada um deles com personalidade própria e vários deles muito maiores do que a Grã-Bretanha e outros países da Europa. Não apenas é vasto o Brasil mas, dentro de suas fronteiras, são muito grandes as diferenças regionais: geográficas, étnicas e econômicas. O vosso Legislativo enfrenta problemas de complexidade e grandeza que poucas nações foram chamadas a resolver. E de vós depende a pesada tarefa de criar unidade na diversidade.
Para Elizabeth II, o Brasil podia dar ao mundo uma “notável contribuição” para a harmonia entre as nações. Ela comentou que a história do país é um exemplo de que “povos de numerosas raças podem trabalhar juntos na persecução de objetivos comuns”.
No comando da sessão, o vice-presidente Pedro Aleixo destacou que o Congresso recebia a rainha com “sentimentos de júbilo”. Dois parlamentares discursaram em nome das respectivas Casas. O senador Manoel Villaça (Arena-RN) e a deputada Lígia Doutel de Andrade (MDB-SC) destacaram as contribuições institucionais e inspirações políticas que a Grã-Bretanha legou ao mundo. Os presidentes do Senado, Gilberto Marinho, e da Câmara, José Bonifácio, também estavam presentes.
Elizabeth II e Philip ficaram no Brasil entre 1º e 11 de novembro de 1968. Eles estiveram em Recife (PE) e Salvador (BA) antes de ir a Brasília (DF). Além do Congresso Nacional, a visita à capital (que durou apenas um dia) incluiu um encontro com o presidente Costa e Silva no Palácio do Planalto. Depois, o casal real foi a São Paulo (SP), Campinas (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
A recepção à rainha acabou sendo um dos últimos atos realizados pelo parlamento brasileiro em muito tempo. No dia 13 de dezembro, pouco mais de um mês depois de seu trabalho ser exaltado pela monarca britânica, o Congresso Nacional foi fechado pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5). Ele só seria plenamente reaberto mais de um ano depois.