O aquecimento global está fazendo com que fenômenos raros se tornem cada vez mais frequentes e os governos não estão se preparando para a nova realidade, a despeito dos alertas dos cientistas. A avaliação é do coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o meteorologista e climatologista José Marengo, ao falar sobre os recentes episódios de chuvas intensas no sudeste.
"Estamos vivendo um clima de extremos", sustenta Marengo. "Os extremos de chuva estão aumentando e essa é uma tendência também para o futuro; a chuva que era para cair em um mês, está caindo em um ou dois dias."
O número de mortos em consequências das fortes chuvas que atingiram Minas desde a última quinta-feira (23) chegou a 50, conforme balanço divulgado na manhã desta terça-feira pela Defesa Civil Estadual. Os dados apontam também que mais de 30 mil pessoas tiveram que deixar as próprias casas. São 28.043 desalojados (que estão em casas de amigos e parentes) e 4.101 desabrigados (que estão em abrigos).
De acordo com o especialista, a causa direta das chuvas dos últimos dias é a zona de convergência do Atlântico Sul, a grande faixa de nuvens que se estende da floresta amazônica até o oceano e é responsável pelas chuvas na região Central do país e no Sudeste.
A elevação das temperaturas do planeta, no entanto, faz com que fenômenos extremos como as últimas chuvas em Minas - as mais intensas dos últimos 100 anos - se tornem cada vez mais frequentes.
"A comunidade científica já mostrou que os extremos de chuvas estão ficando mais intensos e frequentes, mas isso parece ser ignorado pelas autoridades", constata Marengo. "Os piscinões parecem ser subdimensionados, os bueiros estão entupidos com lixo que a população deixas nas ruas, os governos são mais reativos que proativos, prevenção é muito raro nas comunidades. Ou seja, precisamos de estar preparados para reduzir a vulnerabilidade da população."