Engenheiro, astronauta, primeiro brasileiro a ir ao espaço, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e agora senador da República pelo Estado de São Paulo, Marcos Pontes foi eleito com quase 11 milhões de votos. Em entrevista ao programa Senado Notícias Especial, o novo parlamentar diz que irá valorizar a educação. Tenente-coronel da Força Aérea Brasileira da reserva, o engenheiro aeroespacial ressaltou o papel do ensino e da ciência e tecnologia na sua trajetória. Pontes prometeu defender essa pauta quando tomar posse em 1º de fevereiro de 2023:
— O melhor lugar para ajudar pessoas é aqui no Congresso. E a educação será a coluna vertebral do meu trabalho. Aliado a isso, ciência e tecnologia aplicada de maneira prática na vida das pessoas. Se observarmos o que todos os países desenvolvidos têm em comum, veremos ciência, tecnologia e inovação muito bem desenvolvidos porque, quando se tem isso, se melhora a saúde, a infraestrutura, a agricultura e todos os setores. Foi [a ferramenta] que usei no ministério —declarou.
Uma das propostas de Marcos Pontes para o mandato como senador é ajudar a fortalecer o ensino profissionalizante junto aos estudantes do nível médio. Para isso, o futuro parlamentar defende parcerias com as instituições que já desempenham esse trabalho, formando núcleos onde os alunos possam se profissionalizar no contraturno das aulas e cujos currículos e vocações já sejam diretamente vinculados às empresas daquele distrito ou região.
— Com isso, essas empresas já terão técnicos para trabalhar, os jovens já terão um pequeno salário, um emprego garantido, saindo de situações de risco, o que é bom para todos. Ensino profissionalizante muda realidades e países mais desenvolvidos, como Alemanha, Coreia do Sul e Japão, que têm essa premissa muito forte — salientou.
Investimentos em creches para crianças com até seis anos de idade é outra área que o novo senador promete defender. O intuito, segundo ele, é ajudar mães e pais que precisam trabalhar, mas não têm onde deixar seus filhos, principalmente nas regiões mais empobrecidas do país.
— É preciso ainda ampliar esse conceito, de modo a abranger a mulher grávida, a fim de que sua criança já nasça saudável, fornecendo alimentação nessa fase, o que também é extremamente importante, além de incentivar o desenvolvimento das competências dessas crianças na primeira infância. Ou seja, podemos cuidar do começo, tratar do final, não esquecendo também do ensino que resulte num aprendizado real, em período integral.
Na opinião de Marcos Pontes, para alcançar o sonhado título de “país do futuro”, ainda falta ao Brasil pragmatismo. Ou seja: praticidade de objetivos definidos com o fim em resultados. Para o novo senador, é preciso que o poder público dê fim ao desperdício de recursos em ações que não levam aos efeitos desejados. Ao afirmar que há uma mentalidade comum entre os próprios cientistas de que avanços na área só se dão a cada dez anos, o astronauta defendeu que “ciência é para agora”.
— A vacina é para agora. Produzir remédio nacional é agora. Desenvolver sistemas para ajudar no saneamento básico é agora. Casas populares com melhor tecnologia, de forma rápida e barata, é agora.
Marcos Pontes avaliou que o governo precisa ser enxuto e eficiente, consumindo menos e gerando mais, e disse que isso é possível relatando sua experiência como ministro. Ele destacou que havia um déficit de R$ 350 milhões quando assumiu a pasta e lembrou que o orçamento em 2019 para o pagamento de bolsas de pesquisas só contemplava até o mês de agosto, mas se recusou a praticar cortes. Pontes disse ter conseguido reverter o quadro por meio de um esforço junto ao Ministério da Economia, e que conseguiu fazer todos os pagamentos, sem atrasos e sem cortes, mesmo em meio à pandemia de covid-19. O novo senador falou de outras iniciativas que tomou também para ajudar a levar dinheiro para a instituição e evitar novas crises.
— Houve toda uma questão social da pandemia, claro, que exigia a repartição dos recursos entre vários ministérios, então, foi um sacrifício enorme, mas conseguimos pagar todas [as bolsas]. Decidi, entretanto, não ficar mais dependente apenas do Orçamento da União e criei duas outras fontes de recursos: uma secretaria dentro do ministério, que criou sistemas junto ao TCU [Tribunal de Contas da União}, trazendo investimentos privados para projetos públicos, e a liberação do FNDCT, o Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que foi uma luta enorme, mas que teve o apoio do Congresso e resultou na liberação de mais de R$ 9 bilhões por ano para o setor.
Aos 60 anos de idade, Marcos Pontes atribuiu sua vitória na eleição de 2022 ao trabalho bem-sucedido que desenvolveu como ministro da Ciência e Tecnologia, aliado ao fato de os eleitores terem se identificado com ele, que é filho de um auxiliar de serviços gerais e nascido na periferia de Bauru (SP).
— Um estado como São Paulo é rico, mas ainda apresenta muitas desigualdades. Então, essa identificação das pessoas comigo somada ao meu caráter técnico, levaram as pessoas a entenderam que são viáveis os muitos projetos que apresentei.
Marcos Pontes explicou que sua missão como primeiro brasileiro a embarcar em uma missão da Nasa foi fruto de uma construção de carreira. O novo senador ressaltou que sua vida inteira foi embasada em gestão de riscos e, por isso, nunca sentiu medo. Ele disse que ainda em sua adolescência chegou a ser desafiado por colegas, que duvidavam de sua capacidade de crescer na profissão por ser um jovem da periferia. E apontou quatro eixos para ter sucesso na vida, que aprendera com sua mãe, dona Zuleika: "estudo; trabalho; persistência e fazer mais do que esperam".
— Minha mãe, italiana, brava, disse: “olha, eles fazem o que quiserem da vida deles, mas você pode ser tudo o que quiser na vida”. Baseado nisso, prossegui — declarou.