O Senado voltou a expor a nesta terça-feira o quadro Trigal na Serra, de Guido Mondin. A tela, que fica na Sala de Recepção da Presidência do Senado, foi uma das 14 obras de arte danificadas durante a invasão do Congresso por criminosos que depredaram as sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro. A recolocação do quadro em seu lugar foi feita nesta terça-feira em cerimônia com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Recuperada pelo conservador Nonato Nascimento, do Laboratório de Restauração do Senado, a peça foi encontrada no chão após os ataques. Separada da moldura, o tela, do ano de 1967, sofreu arranhões provocados pelos fragmentos de vidro e estilhaços decorrentes da invasão. A obra estava encharcada e empenada pela umidade, depois que os vândalos acionaram mangueiras e hidrantes de combate a incêndio.
O trabalho de recuperação da peça de 92 por 112 centímetros, feita em acrílico sobre eucatex, começou logo após os ataques, ainda na Presidência da Casa. Com uma trincha macia, Nonato removeu os primeiros fragmentos de vidro. Nos dias que se seguiram, outros procedimentos foram adotados para devolver o quadro ao estado original.
— Como ficou muito encharcado, no dia seguinte já tinha muito fungo. Borrifei uma mistura de álcool e água no fundo da tela, onde estava a maior parte dos fungos. Removi os esporos com um aspirador e uma escova macia. Coloquei a tela entre papéis mata-borrão para retirar a umidade e, depois, em uma prensa para planificar. Fiz a reintegração cromática nos locais onde houve danos e perda de policromia — explicou Nonato.
Para a coordenadora do Museu do Senado, Maria Cristina Monteiro, a entrega do quadro representa um marco na recuperação dos danos causados pelos invasores.
— É a primeira obra que fica pronta, depois de um sentimento de terra arrasada, um sentimento de guerra que a gente enfrentou. Essa entrega significa um passo em direção à normalidade — disse a coordenadora, que já adiantou a próxima obra recuperada que deve entregue: uma cadeira do século 19, usada no Salão Nobre para a recepção de autoridades estrangeiras.
O custo total dos reparos pode chegar a R$ 1 milhão e ainda não há um cronograma definido para a restauração e a entrega de todas as obras danificadas, que depende da avaliação de cada peça. Algumas delas estão sendo restauradas em São Paulo, como é o caso da tapeçaria de Burle Max.
Guido Fernando Mondin nasceu em Porto Alegre (RS), em 1912. Foi pintor, economista, empresário, professor e político — inclusive como senador, por dois mandatos (1959 a 1975).
Mondin doou vários de seus quadros ao Senado. Além de Trigal na Serra, compõem o acervo da Casa as seguintes obras: Família de Retirantes, Frei Franciscano, Panorama Mineiro, Barcos, Marina em Capri, Figueira, Retrato do Dr. Isaac Brown, Os Arcos do Rio de Janeiro e Velha Roma. Ele morreu em 2000, aos 88 anos.