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Participantes de audiência pública pedem urgência na votação do Estatuto dos Ciganos
Projeto de lei será analisado por uma comissão especial a ser criada
23/05/2024 19h05
Por: Redação Fonte: Agência Câmara

Participantes de audiência pública na Câmara dos Deputados pediram urgência para a votação do Estatuto dos Ciganos (PL 1387/22). O projeto foi aprovado em 2022 pelo Senado. Na Câmara, será analisado por comissão especial (ainda a ser criada) e depois pelo Plenário.

Além de especificar direitos básicos, o estatuto assegura atendimento de urgência e emergência nos serviços do Sistema Único de Saúde ao cigano que não for civilmente identificado e também torna obrigatória a coleta periódica de informações demográficas sobre os povos ciganos para ajudar na elaboração de políticas públicas, entre outras medidas.

O assunto foi discutido em audiência pública na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara. O cigano Francisco Figueiredo, da cidade de Sousa (PB), afirma que o estatuto vai tirar os ciganos da invisibilidade.

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Ele citou como exemplo da invisibilidade o teor de outro projeto de lei ( PL 1958/21 ), já aprovado no Senado e que amplia as cotas raciais em concursos públicos para pretos, pardos, indígenas e quilombolas.

“Cadê os ciganos nessas cotas? Nós não existimos?”, questionou. “Precisamos ser incluídos nos programas sociais. É isso que nós estamos pedindo, estamos pedindo uma vida digna.”

O presidente da Associação Estadual Cultural de Direito e Defesa do Povo Cigano, José Willames, também defende a inclusão dos ciganos no projeto de lei das cotas, que agora será analisado na Câmara. Willanes representa a maior comunidade cigana de Penedo (AL), com mais de 500 famílias. A falta de garantia de direitos foi ressaltada pela presidente do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, Edvalda Bispo.

“Por que, quando tem um edital, coloca lá ‘povos e comunidades tradicionais’ no início, mas quando a gente vai chegando no objetivo, estão lá dois ou três segmentos? Os povos ciganos são esquecidos de tudo”, afirmou.

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Rose Winter, do povo cigano sintim, do Rio Grande do Sul, ressaltou que os ciganos gaúchos estão passando dificuldades com as enchentes e não tiveram ajuda por falta de um estatuto legal. “Por falta do estatuto, na hora que a gente chega numa fila de cesta básica, o cigano fica de lado. Vai acontecer a mesma coisa que aconteceu na pandemia”, disse.

Ações afirmativas
O projeto do Estatuto dos Povos Ciganos determina ações afirmativas em favor dessa população e prevê o acesso à terra, à moradia e ao trabalho, o combate à discriminação e ainda impõe ao Estado o dever de garantir igualdade de oportunidades e políticas públicas. A elaboração da proposta contou com a ajuda da Associação Nacional das Etnias Ciganas (Anec). O presidente da entidade, Wanderley da Rocha, participou da audiência pública.

“Pela primeira vez na História, em todo o tempo que o cigano está no mundo, está aqui em Brasília sendo aprovado o estatuto dos ciganos para servir de modelo para os demais países”, disse ele, sobre a votação no Senado.

O secretário nacional de políticas para quilombolas, povos e comunidades tradicionais de matriz africana, povos de terreiros e ciganos, Ronaldo Santos, afirmou que o Ministério da Igualdade Racial vai apoiar a urgência.

“Nós não pouparemos esforços para apoiar essa casa legislativa, com nossa presença, com a nossa fala, com notas técnicas, com posicionamentos e com o apoio, sobretudo, à luta dos povos ciganos, porque a gente entende que tudo o que o estado brasileiro constrói será sempre resultado da mobilização social”, disse Santos.

O representante do povo rom, Claudio Iovanovich, lembrou que, após a aprovação do estatuto, será necessário lutar por recursos para que a lei não seja “inócua.” A deputada Erika Kokay (PT-DF), uma das que pediram a realização da audiência pública, defendeu a destinação de recursos para tornar a futura lei efetiva.

A audiência pública também foi pedida pela deputada Célia Xakriabá (Psol-MG).