A nova sede do Museu Casa do Pontal, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, vai ser inaugurada no dia 2 de outubro, mas até lá ainda há muito trabalho pela frente. Está sendo montada a exposição que ocupará um espaço de mil metros quadrados (m²) com peças do acervo, considerado o maior de arte popular do Brasil.
Até a construção das novas instalações foram dez anos de luta para preservar o acervo, que corria risco de se perder com inundações que ocorriam nos períodos de chuva forte, na região da sede histórica do museu no bairro vizinho do Recreio dos Bandeirantes.
Depois de algumas tentativas, a ajuda de parceiros permitiu a construção da sede nova. “A gente sai de uma situação de alagamentos contínuos e de dificuldades enormes para construir um prédio perfeito para ser um museu”, disse à Agência Brasil a diretora curadora do Museu do Pontal, Angela Mascelani.
“Não foi nem uma batalha, nem uma guerra. Foram várias guerras e chegamos ao começo de uma nova vida em um prédio que tem atributos e qualidades que vão expandir ainda mais o nosso alcance e o que podemos fazer pela arte e pela cultura brasileira”, afirmou o diretor executivo do museu, Lucas Van de Beuque.
O museu foi fundado em 1976 pelo artista e colecionador francês Jacques Van de Beuque (1922-2000). O acervo foi iniciado com mais de dez mil obras de 300 artistas brasileiros. As peças foram reunidas a partir de pesquisas e de viagens que o colecionador fez pelo Brasil.
“Ele encontrou um ambiente extremamente acolhedor. Viajando a trabalho pelo país, ele se deparou com muitos artistas populares criando obras magníficas, se apaixonou pelo que viu e começou uma pequena coleção até que ela se tornou o maior acervo de arte popular do Brasil”, destacou Angela.
Para a diretora curadora, o acervo é um patrimônio brasileiro de muitas gerações. As obras vêm desde a década de 30 e chegam aos dias atuais. “Há gerações de artistas populares constituindo esse patrimônio brasileiro que é muito diverso e fala de todas heranças de diferentes configurações, desde comunidades isoladas até as mais urbanas e de periferias. É importante porque é um patrimônio que está cuidado e será entregue novamente para uso da população brasileira”, disse.
O acervo, que tem ainda coleções de outros pesquisadores e doações de apaixonados pela arte popular, recebe, com frequência, outras obras pesquisadas em diferentes estados. “O museu sempre se renova através de projetos de pesquisas, que têm o intuito de aprofundar o conhecimento nesse campo. O acervo está sendo constantemente renovado porque a arte popular é muito dinâmica”, afirmou.
A ideia a partir da inauguração, segundo o diretor executivo, é que o espaço seja ainda mais democrático do que a sede histórica, que tinha 70% de entradas grátis, especialmente por causa do programa de visitas educacionais com alunos de escolas públicas.
Segundo ele, eram em média 20 mil crianças por ano, sem contar com visitas sociais de outros grupos. “Agora, o nosso objetivo é estender essa prática de uma ação mais democrática e plural para o público”, salientou.
O ingresso terá um preço sugerido, mas será permitida a contribuição livre. O museu vai incentivar ainda assinaturas de associação do público para garantir recursos e espera também que o visitante dê, na entrada, contribuições acima do valor sugerido.
“O importante é que a pessoa que não tiver recursos, porque já tem gasto muito grande com transporte e alimentação, aqui não haverá [para ela] impedimento. Toda a nossa estrutura foi pensada para acolher também esse visitante de uma forma que ele não precise necessariamente gastar. Vai ter uma área de acolhimento para as pessoas também fazerem piquenique. A ideia é que o museu funcione também como uma praça, como um espaço de todos”, disse lembrando um verso do poema O povo ao poder, de Castro Alves. “A praça! A praça é do povo! Como o céu é do condor!
A construção da nova sede tem a participação dos arquitetos que desenvolveram o projeto do Instituto Inhotim, o museu a céu aberto de Brumadinho, em Minas Gerais. A ideia foi repetir o conceito em uma grande extensão de área livre de 14 mil metros quadrados (m²), com vista para o maciço da Tijuca.
O espaço que Lucas Van de Beuque está chamando de praça, além das peças que mostram a diversidade da arte popular brasileira e ambiental, tem mais de 70 espécies de árvores, a maior parte nativas. “Vai ter açaí, pitangueira, bananeira, quaresmeira, ipê-amarelo, ipê-roxo, realmente vai ser um festival de diversidade e de cores, um pouco apresentando esses muitos Brasis que temos”, completou.
A data da reabertura da nova sede foi anunciada durante a transmissão virtual do início do ciclo de debates O Novo Museu do Pontal – Parcerias e Inspirações, na quinta-feira (5) e que deu a partida para a programação prévia da inauguração da nova sede do Museu do Pontal. Até lá, os ciclos continuam de forma virtual, mas ainda não estão definidas as datas. Além disso, será lançado um curso em forma de seminário sobre arte popular que vai começar daqui a 15 dias.
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