A rápida disseminação da variante delta, seus riscos e impactos, somados ao relaxamento de medidas de prevenção à covid-19 e à necessidade de uma terceira dose de vacina, diante da inexistência do controle da transmissão comunitária no país, reúnem-se num rol de questões debatidas nesta sexta-feira (20) pela Comissão Temporária da Covid-19.
Especialistas e senadores convergiram que a situação momentânea é de muita preocupação e que é cada vez mais imprescindível a rápida expansão da vacinação em todo o país — que apesar de não impedir o contágio pelo coronavírus, ainda fornece a melhor resposta contra casos graves e óbitos — atualmente com 25% da população imunizada após segunda dose.
Relator da CTCOVID, o senador Wellington Fagundes (PL-MT) pontuou que, em países onde a variante delta já apresenta alta propagação, pessoas não vacinadas estão entre o maior número de óbitos.
— Temos de buscar fazer a vacinação em massa e a segunda revacinação. O Brasil precisa e deve fabricar vacina até o final deste ano com a nossa tecnologia. Já temos lei já aprovada para aumentar o parque industrial.
Espiridião Amin (PP-SC) salientou que na última segunda-feira (16), a comissão também tratou da necessidade de terceira dose no país, tendo em vista a circulação da delta.
— Em face disso, apresentei um requerimento para que possamos ouvir do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se o Plano Nacional de Imunização (PNI) será alterado diante desses fatos.
O presidente da comissão, Confúcio Moura (MDB-RO), informou que o ministro já está convidado para audiência pública no dia 30 de agosto.
Do grupo técnico da Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, a epidemiologista Greice Madaleno do Carmo afirmou que o órgão ainda não verificou o aumento de casos pela variante delta para o Brasil.
Com exceção dos idosos acima de 80 anos, há no momento decréscimo do número de casos e óbitos no país, segundo Greice.
De maior transmissibilidade, a variante delta, originária da Índia, está presente em 148 países. Anteriores, a alfa, do Reino Unido, disseminou-se para 190 paises, beta, da África do Sul para 138 e gama, do Brasil, para 82.
A gama é a variante mais predominante no país, com quase 14 mil casos. A delta já é a segunda, com 1.169 casos, seguida da alfa com 409 e beta com 3.
Diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Alex Machado Campos afirmou que a disseminação da delta é uma preocupação do órgão, que utiliza os dados epidemiológicos para sua atuação.
Na última quarta-feira, a Agência sinalizou, por meio de ofício, a recomendação ao Ministério da Saúde para a revacinação prioritária da população idosa e imunocomprometida.
— A retomada de atividades em massa nos traz preocupação, porque podem ser bolsões de disseminação da variante. O relaxamento de medidas essenciais, como o uso de máscara já está acontece em movimentos, como em aeroportos. Temos casos de pessoas que não estão usando as máscaras dentro das aeronaves e nos desembarques.
O infectologista e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Guilherme Loureiro Werneck explicou que quanto maiores os níveis de transmissão numa comunidade, maiores serão as chances de haver surgimento de novas variantes.
— Apesar do avanço, no Brasil ainda não há o controle da transmissão comunitária, o que faz com que qualquer variante se dissipe rapidamente. Estados Unidos, Israel e Reino Unido, onde a cobertura vacinal é de 50%, a variante delta levou a um aumento das hospitalizações com covid e aqui estamos em 25% apenas de imunizados.
A queda do número de hospitalizações e óbitos estacionou e pode voltar a crescer, segundo o professor, para quem o país pode estar numa situação de piora no quadro epidemiológico, diante do registro de aumento de internações em algumas localidades.
Ações combinadas são imprescindíveis para conter o avanço, disse Werneck, entre elas a suspenção no processo de relaxamento das medidas preventivas populacionais, aumentar a adesão às medidas individuais de proteção, como uso de máscaras de boa qualidade, vacinação em massa e comunicação governamental.
— É preciso convocar um comitê nacional para revisar planejamento, diretrizes, critérios e implementação do PNI contra a covid-19. Imunidade de grupo é quase uma miragem, muito difícil de ser alcançada.
Professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a infectologista Raquel Stucchi também enfatiza a necessidade de manutenção de medidas preventivas.
Ao comparar Estados Unidos e Alemanha, dois países com taxa vacinal parecidas, ela destaca que a delta não conseguiu grandes proporções em território alemão, onde se oferece gratuitamente testagem para a população e se mantém a obrigatoriedade do uso de máscaras. Já no país americano, a delta passou de 10% das variantes circulantes, para 90% nos dois meses seguintes.
Há confirmação da transmissão da delta em áreas abertas, afirmou Raquel, ao destacar que um contaminado pela variante pode transmitir para até 8 pessoas. No Rio de Janeiro, onde os casos multiplicam-se rapidamente, o percentual da variante era de 8,8% em junho e julho fechou com 56,6%.
Na mesma linha, o professor de genética da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Renan Pedra afirmou que “essa variante não é o final da história”.
— Novas variantes podem surgir e, com certeza, podem complicar ainda mais o controle. Precisamos de ampliação da testagem diagnóstica, integração de dados de variantes com dados clínicos, ampliação de estratégias de vigilância genômica e monitoramento da evolução da variante delta.
A diretora da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Monica Levi, disse que exames sorológicos não são capazes de detectar quem está protegido ou não, ratificando as demais posições de manutenção de medidas preventivas.
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