Sem incorporar a dimensão ambiental, a política comercial brasileira não conseguirá avançar. Esse é o resumo do segundo painel do ciclo de palestras e debates intitulado “Comércio exterior visão estratégica e geopolítica” promovido pela Comissão de Relações Exteriores (CRE) nesta segunda-feira (23). Segundo a presidente do colegiado, senadora Kátia Abreu (PP-TO), apesar de o Brasil estar num momento adequado para ampliar o comércio exterior, a questão ambiental tem atrapalhado o desenvolvimento do setor.
Para Kátia Abreu, o Brasil carece de uma espécie de agência de inteligência do agronegócio. Ela deu como exemplo um mapeamento americano de perspectivas de mercado que, segundo ela, serve para direcionamento de produtores, empresários e exportadores e que poderia ser seguido pelo Brasil, a fim de dar orientação aos seguimentos produtivos, visando acordos para exportação.
— Eles precisam do “caminho das pedras” e que a nossa diplomacia facilite isso no exterior. Sei que nossos diplomatas estão prontos, só precisam de mais investimentos. (...) Precisamos arriscar. Uruguai fez isso e está à nossa frente. Vamos ousar pelos nossos 215 milhões de brasileiros — defendeu.
Inteligência comercial
Pesquisador da Universidade de Harvard, Hussein Kalout afirmou que o Brasil não conseguirá evoluir na ordem internacional sem compreender a importância ou o alcance da temática ambiental em todas as áreas. Ele observou que agronegócio e meio ambiente não são temas conflitantes, “até porque o Brasil tem o agro mais tecnológico e mais competitivo do mundo”.
Kalout apontou uma “falta de inteligência comercial” no processo de formulação da política externa brasileira. Para ele, a elaboração de uma política comercial eficiente consiste em três pilares: clareza sobre os interesses, compreensão da dinâmica da ordem internacional e percepção sobre os próprios objetivos estratégicos.
— O Brasil perdeu a bússola desse tripé, caindo na armadilha de interpretar as relações internacionais a partir de um projeto de poder e não a partir de uma política de Estado — analisou.
Diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), a economista Sandra Rios considerou o Brasil uma economia fechada para qualquer padrão internacional. Para ela, a participação do Brasil no comércio exterior é desproporcional ao tamanho de sua capacidade econômica.
Na opinião de Sandra, a gestão do presidente Jair Bolsonaro trouxe avanços no campo da liberação do comércio, mas as reformas trazidas por ele ainda estão aquém do esperado. Ao ponderar que a abertura comercial não seria prioridade do governo, a especialista alertou que dificilmente países desenvolvidos terão interesse em negociar com o Brasil sem que haja uma modernização da política comercial com base na proteção ao meio ambiente.
— Se queremos crescer, precisamos nos abrir para o mundo. E se queremos exportar, precisamos importar. O contexto internacional, mais difícil, mais nebuloso, tem estimulado a narrativa de que não seria esse o melhor momento para a abertura e de que seria preciso ser cauteloso. Não adianta promover a imagem do Brasil se a gente não estiver fazendo o dever de casa — alertou.
Compensação
O senador Lucas Barreto (PSD-AP) defendeu a discussão sobre o agronegócio brasileiro e cobrou atenção do governo para os estados que cuidaram da preservação ambiental. Ele questionou quanto vale uma federação manter a preservação ambiental e contribuir com as condições climáticas sem receber compensações econômicas. Segundo ele, estados como o Amapá não recebem recursos compensatórios pela preservação para investirem em ações como o manejo sustentável.
— Só nos veem como escravos ambientais e estamos no limite para dar um basta no Amapá. Essa discussão no Brasil é importante, inclusive porque queremos saber quando e como os estados que preservaram suas florestas serão vistos com os olhos da compensação — cobrou.
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