Com seu nome imortalizado em dois panteões nacionais de heróis da Pátria — no Brasil e na Itália —, a catarinense Anita Garibaldi foi homenageada em sessão especial no Senado, nesta segunda-feira (30), pelo bicentenário de seu nascimento. Personagem ímpar de inspiração feminina, a “heroína de dois mundos” é, para senadores e convidados, a melhor representação nacional da força da mulher, que não abre mão de seus ideais, seja na luta pela igualdade de gênero, seja na força que se traduz em ações enquanto mães, irmãs e filhas.
Primeiro signatário do requerimento de homenagem, o senador Espiridião Amin (PP-SC) destacou a figura singular que Anita foi para o Brasil e, de maneira especial, para Santa Catarina.
— Essa singularidade pode ser expressa pela disputa intelectual e literária sobre o local onde nasceu. Transcendendo a este papel, ao colocar o amor como parceiro da luta e da liberdade Ana Maria de Jesus Ribeiro fez-se Anita. Combateu as batalhas dos farroupilhas, da República Juliana, que tinha como capital a nossa querida Laguna; esteve ao lado dos uruguaios, na resistência a Rosas; casou-se com Giuseppe Garibaldi, no Uruguai, logo após a saída do Brasil. Com a legião italiana de Garibaldi, cruzou o oceano para lançar-se em mais uma batalha à guerra pela unificação italiana.
Ao transferir-se para a Itália, em 1847, dois anos antes de sua morte, Anita fez com que a história entre estes dois países — Brasil e Itália — mais uma vez confluísse, segundo o senador.
— Homenageando o bicentenário do nascimento de Anita Garibaldi, o Senado homenageia todas as mulheres brasileiras, verdadeiras heroínas que batalham incessantemente, muitas vezes, para trazer alimento para os filhos, na batalha cotidiana pela sobrevivência sua e dos seus. Esta Casa homenageia, também, as muitas mães e irmãs que faleceram sendo heroínas, particularmente nos hospitais, os dolorosos campos de batalha da pandemia.
Para Nelsinho Trad (PSD-MS), “Anita Garibaldi realmente é digna desta sessão de homenagem”.
— Nunca é demais saber da história de Anita Garibaldi, relembrar os seus feitos e seguir os seus exemplos de luta, de persistência de uma mulher guerreira à frente da sua época e que nunca deixou de, através das suas batalhas, colocar a sua opinião e aquilo que ela imaginava ser pertinente ao tempo em que vivia.
Coordenadora do Fórum Parlamentar Catarinense, a deputada Angela Amin (PP-SC) lembrou que as batalhas de Anita sempre tiveram muita ênfase na liberdade. A heroína é inclusive destacada em obras, como música exibida durante a sessão, como alguém que tem “um filho no braço e outro no fuzil”, destacou a parlamentar.
— O seu exemplo deve ser de agradecimento sempre e que possa nos acompanhar em todas as nossas decisões — afirmou a deputada.
O deputado Coronel Armando (PSL-SC) informou que na tarde desta segunda-feira será lançado no Itamaraty selo dos Correios alusivo aos 200 anos de nascimento de Anita.
Presidente da Fundação Catarinense de Cultura, Edson Lemos, que representou o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, afirmou que mais de 160 eventos alusivos a Anita estão sendo organizados em todo o estado.
Entre eles, exposição aberta nesta segunda-feira, e que permanece até dezembro, em homenagem à catarinense no Museu Histórico de Santa Catarina (Palácio Cruz e Sousa).
— Quero dizer que a história de Anita é tão atual e tão vivenciada por milhões de Anitas por este Brasil afora, essa guerreira que deu seu sangue, que foi mulher, que foi esposa e que, acima de tudo, deixa um legado, principalmente para as mulheres nos dias de hoje.
Para a vice-governadora, Daniela Cristina Reinehr, Anita foi uma mulher guerreira, de uma coragem, de uma bravura como poucas, de patriotismo e de uma mulher muito à frente do seu tempo, que acreditava em ideais desde pequenininha.
— Eu desejo que sejamos sempre Anitas, que tenhamos sempre esse espírito aguerrido, guerreiro, lutando sempre pela liberdade e pelo bem do nosso país.
Nascida em 31 de agosto de 1821 na cidade de Laguna, mas especificamente em Morrinhos, que hoje pertence ao município de Tubarão, Anita tem sua origem já consolidada para as populações locais.
— Todos éramos Laguna naquela época, onde hoje está Tubarão. Mas isso tudo está pacificado, afinal de contas, Anita, acima da naturalidade de um município, é catarinense, é brasileira e nós estamos felizes por poder celebrar este momento — disse o prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli.
Da mesma forma, o prefeito de Laguna, Samir Ahmad, destacou que o aniversário de Anita é o maior evento da cultura local, em um passado de glória que se viabiliza em presente e futuros promissores, a partir da exposição do município em todo o mundo.
— Anita nos traz a reflexão da inserção da mulher na nossa sociedade — além de ser um exemplo a toda as mulheres, é um exemplo à humanidade — expôs Ahmad.
Ao participar de importantes revoluções no Brasil, como a Guerra dos Farrapos, e na Itália, onde lutou pela unificação do país numa república, Anita é lembrada como “a heroína de dois mundos”. Ao lado do marido e revolucionário Giuseppe Garibaldi, ela travou batalhas também no Uruguai e na França, países onde é recorrentemente homenageada.
Com a derrota dos farrapos em Santa Catarina, Anita fugiu com o marido para o Uruguai e, mais tarde, para a Itália, onde também enfrentou o campo de batalha. Mãe de quatro filhos, morreu grávida nos braços de Garibaldi, em 4 de agosto de 1849, aos 27 anos. Em 30 de abril de 2012, foi sancionada a Lei 12.615, que inscreveu o nome de Anita Garibaldi no Livro dos Heróis da Pátria.
Diretor do Instituto Cultural Anita Garibaldi, Adilcio Cadorin considera que a sessão temática no Senado é o evento mais emblemático e significativo do bicentenário de Anita.
Ao chama-la de “guerreira das Repúblicas e da liberdade”, Cadorin destacou a participação da heroína na instalação de quatro repúblicas: Catarinense, Rio-grandense, Uruguaia e Romana.
— Incompreendida em sua época e rompedora de barreiras e de preconceitos, Anita foi envolta, ainda muito cedo, em uma atmosfera de ideais republicanos que a ajudaram a moldar seu caráter único e forte. Não aceitava injustiças sociais. Não aceitava que homens e mulheres tivessem tratamentos diferenciados. Foi soldado republicano por ideal.
O historiador solicitou que parta dessa Casa Legislativa a iniciativa de fazer o repatriamento dos restos mortais de Anita, depositados em Roma.
Também convidados da cerimônia, a escritora Lélia Nunes, membro da Academia Catarinense de Letras, destacou obras que evidenciaram o percurso e luta da heroína, assim como o presidente do Instituto Histórico Geográfico de Santa Catarina, Augusto César Zeferino, anunciou o lançamento, nesta terça-feira (31), de coletâneas de artigos alusivos à história da heroína. A sessão teve ainda a exposição de vídeo de autoridades da República de San Marino.
Mín. 21° Máx. 28°