O trabalho de restauração de três obras de Aleijadinho está sendo realizado diante dos olhos do público, por uma iniciativa da Casa Fiat de Cultura, centro cultural localizado em Belo Horizonte. Fundado em 2006 e com mais de 60 exposições no seu histórico, o espaço estava fechado para eventos presenciais desde o ano passado em decorrência da pandemia da covid-19 e vinha se dedicando a uma programação totalmente online. Mas suas portas voltaram a se abrir na quarta-feira (3), e até o dia 2 de janeiro será possível apreciar a exposição “Aleijadinho, arte revelada: o legado de um restauro”.
As visitas são gratuitas, mas devem ser agendadas pela plataforma Sympla. A restauração das três obras, que acontece em um ateliê-vitrine, é um dos atrativos da exposição, que dá a possibilidade de conhecer os bastidores do trabalho e vislumbrar detalhes das etapas do restauro. São imagens de Sant’Ana Mestra, de São Joaquim e de São Manuel.
As obras de São Joaquim e São Manuel, já restauradas, poderão ser vistas a partir do dia 2 de dezembro. Já os trabalhos com a imagem de Sant’Ana Mestra levarão mais tempo e continuarão sendo acompanhados ao vivo pelo público.
A partir de 8 de novembro, uma websérie com oito capítulos será transmitida pelas redes sociais mostrando o making of de todo o processo de restauração, além de apresentar aspectos da biografia de Aleijadinho.
Aleijadinho, como ficou conhecido Antônio Francisco Lisboa, viveu entre 1738 e 1814. Nascido em Ouro Preto (MG), era um homem pardo, filho de mulher negra e escravizada, que desenvolveu trabalhos como entalhador, escultor e arquiteto. Aprendendo o ofício na prática, sem estudos, se tornou um dos mais importantes nomes do barroco e do rococó. Seu talento e sua representatividade na arte brasileira o tornaram reconhecido mundialmente.
O principal destaque de sua obra está sediado em Congonhas (MG): o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, registrado como Patrimônio Cultural Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Trata-se de um conjunto de arte sacra que envolve narrativa, arquitetura e paisagem, composto por uma igreja, seis capelas e um adro ornado com 12 estátuas de profetas.
Diversas outras cidades mineiras guardam amostras da obra de Aleijadinho, como Barão de Cocais, Caeté, Mariana, Ouro Preto, Raposos, Sabará e São João del-Rei.
As obras que serão restauradas são provenientes de diferentes cidades. A imagem de São Joaquim pertence à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Raposos. O pai de Maria e avô do menino Jesus aparece com idade avançada, barba e cabelos de coloração acinzentada, tendo como atributo o cajado.
Já a imagem de São Manuel é da Paróquia de Nossa Senhora do Bonsucesso, em Caeté. Segundo informações da Casa Fiat de Cultura, é um santo oriental, vindo da Pérsia, que surge somente em textos apócrifos, mas conquista fiéis em Portugal e alcança a religiosidade em Minas Gerais. Aleijadinho o representa com o corpo perfurado por cravos, que atravessam seus ouvidos e as laterais do peito, e apresenta, no pescoço, a marca de sua decapitação.
Por sua vez, a imagem de Sant’Ana Mestra integra o acervo da Capela de Sant’Ana, da comunidade de Chapada, localizada em Ouro Preto. Mãe de Maria e avó de Jesus, ela é considerada a protetora dos lares e da família, bem como dos mineradores. Em Minas Gerais, diversas igrejas e capelas são dedicadas à ela.
A Casa Fiat de Cultura funciona no histórico edifício do Palácio dos Despachos, tombado pelo patrimônio estadual e municipal, e é parte do circuito cultural da Praça da Liberdade, na região centro-sul da capital mineira. Além das exposições temporárias, pelas quais já passaram obras de artistas consagrados como Caravaggio, Rodin e Tarsila do Amaral, o espaço mantém exibição permanente da obra “Civilização Mineira” (1959), um grande painel de Candido Portinari medindo 2,34 metros por 8,14 metros.
A visitação está sendo realizada com protocolos sanitários para evitar a disseminação da covid-19. O público deve usar máscara cobrindo a boca e o nariz durante toda a visita. O centro cultural recomenda máscara cirúrgica ou N95.
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