Senadores e médicos destacaram a importância do diagnóstico precoce e fizeram um apelo para que os homens façam exames para prevenir o câncer de próstata. O assunto foi debatido na manhã desta segunda-feira (8) no Plenário do Senado, em uma sessão especial sobre a campanha Novembro Azul.
Os especialistas convidados se mostraram especialmente preocupados com o período da pandemia, que provocou a redução de 27% no número de exames de sangue com medição de nível de PSA (antígeno prostático específico, usado no rastreamento do câncer de próstata), de 33% de consultas urológicas e de 21% na realização de biópsias, mesma taxa de redução verificada nos procedimentos cirúrgicos.
— Vocês podem imaginar o que vamos testemunhar nos próximos meses, no pós-pandemia, pois tivemos um represamento de consultas e de diagnósticos e grande quantidade de tratamentos interrompidos. Por isso, não podemos descansar enquanto houver homens morrendo por falta de informação e de tratamento digno — disse a presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, Marlene Oliveira.
A presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, lembrou que a reflexão sobre o impacto do coronavírus em relação ao câncer segue sendo importante ao longo de novembro. Ela prevê uma epidemia de casos avançados:
— Só em relação ao câncer de próstata, tivemos cerca de 5 mil homens a menos iniciando seus tratamentos em 2020, comparando-se com dados de 2019. Se considerarmos 2021, essa diferença já chegou a quase 20 mil. Isso reforça a necessidade de agirmos e cobrarmos a retomada da priorização da oncologia no Brasil — avaliou.
O câncer de próstata é o tipo mais comum entre os homens brasileiros, depois do câncer de pele. Anualmente, o país registra cerca de 65 mil novos casos, que resultam em pouco mais de 16 mil mortes causadas pelo tumor.
Os especialistas que participaram da audiência foram unânimes em dizer que falta de informação, preconceito e vergonha são algumas das razões que levam o público masculino a deixar de lado procedimentos simples, rápidos, indolores e fundamentais para identificar a doença em estágio inicial.
— O tratamento para quem detecta precocemente o câncer de próstata chega a índice de cura de até 90% — esclareceu o urologista Roni de Carvalho Fernandes, diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia.
O urologista lembrou que esse tipo de câncer pode ser assintomático e silencioso em seu estágio inicial.
Para o médico oncologista Fernando Maluf, presidente do Instituto Vencer o Câncer, a falta de informação é um problema muito sério, mas não é tudo. Segundo ele, há uma população masculina enorme que não tem acesso aos exames mais básicos. Ele defendeu ainda um sistema de monitoração, com uso da tecnologia, para monitorar os homens, de forma que seja possível um controle individualizado das idas ao médico e da realização de exames.
Já o oncologista e diretor do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, Gustavo dos Santos Fernandes, acredita que seria necessário uma medida mais impositiva:
— No Uruguai, tornou-se compulsória a mamografia para as mulheres renovarem suas carteiras de trabalho. Penso em algo semelhante com os homens aqui no Brasil. Quem sabe em relação à renovação da carteira de habilitação [CNH], que é feita a cada cinco ou dez anos, conforme a idade do motorista — sugeriu.
No comando da sessão, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) lembrou que a campanha Novembro Azul é uma ação de política pública especialmente importante porque abrange a saúde masculina de forma integral, e não diz respeito somente à neoplasia.
— Até porque o câncer tem fatores de risco como obesidade, sedentarismo, consumo de álcool e maus hábitos alimentares. Daí a relevância da realização de outros exames, como verificação de pressão, hemograma completo, testes de urina, atualização da carteira vacina, medicação de perímetro abdominal e do índice de massa corpórea (IMC) — observou.
Para o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), responsável por apresentar o requerimento para realização da sessão especial, em se tratando de câncer de próstata, vale o dito popular de que "é melhor prevenir do que remediar".
— A ida ao médico de forma preventiva representa a diferença entre a vida e a morte — avisou Nelsinho, que também é médico.
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