O crescimento econômico proporcionado pelas redes 5G precisa ser acompanhado por investimentos do poder público em segurança cibernética e capacitação dos trabalhadores. A avaliação é de parlamentares e especialistas que participaram nesta quinta-feira (18) de audiência pública promovida pela Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT). A implantação da rede 5G no Brasil é o tema escolhido como política pública a ser acompanhada neste ano pelo colegiado.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) deve apresentar o relatório final sobre o acompanhamento da política pública até o dia 9 de dezembro. Para o parlamentar, os benefícios gerados pela tecnologia 5G devem mudar as formas de produção e os modelos de negócio ao redor do mundo. Ele cita como exemplo a adoção de tecnologias como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, computação em nuvem e realidade virtual. Prates destaca, no entanto, que é preciso garantir a segurança de todas essas aplicações.
— Qual a segurança que temos hoje? Os dados pessoais dos cidadãos e das empresas estarão todos protegidos? A vulnerabilidade das redes de comunicação pode permitir ataques criminosos nos mais diversos setores, que podem resultar em prejuízos incalculáveis. O que se deve fazer para tornar as redes de comunicação mais seguras? — questionou.
Victor Hugo da Silva Rosa é o coordenador-geral de Gestão de Segurança da Informação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Para ele, as redes 5G representam “uma quebra de paradigma” por permitir a comunicação não mais entre humanos, mas entre máquinas. Rosa aponta uma série de “fatores de risco” que precisam ser levados em conta com a nova tecnologia. Entre eles, o aumento da superfície de ataques e a velocidade na comunicação.
— Isso é um lugar comum: vai haver mais pontos por onde entrar o ataque. A comunicação ultrarrápida e altamente confiável, ao mesmo tempo que é um benefício para o usuário, é também um benefício para o hacker. Para ter baixa latência, o 5G leva massivamente o processamento para a ponta, mais perto do usuário. Isso às vezes é difícil de auditar e pode gerar um risco maior de vulnerabilidade — reconhece.
O diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) Arthur Pereira Sabbat alerta para os riscos à privacidade de informações pessoais e de empresas. Ele lembra que as rede 5G devem proporcionar um “aumento vertiginoso” no tráfego de dados, que precisam ter a segurança preservada.
— Haverá aumento na coleta e nas operações de tratamento de dados, uma vez que esses equipamentos necessitam de variadas quantidades de dados pessoais para serem eficientes a seus proprietários e oferecerem a comodidade a que eles se propõem. A segurança cibernética não existe sem a proteção dos dados pessoais e vice-versa. Isso se tornará mais evidente com a implantação das redes 5G — afirmou.
O diretor-geral da empresa Kryptus, Roberto Gallo, estima que o 5G representa uma promessa de desenvolvimento econômico de US$ 13,2 trilhões até 2035. Um dos desafios, segundo ele, é garantir os mecanismos de proteção no ambiente virtual.
— A despeito do que qualquer fabricante falar, existe um teorema fundamental da computação que diz que é impossível provar que um sistema é seguro. Há uma impossibilidade matemática para que isso aconteça. Todos estamos sujeitos aos mecanismos embarcados nesse tipo de tecnologia, seja acidental ou propositalmente. O homem púbico pode ser chantageado por conta de uma opinião. A espionagem pode atingir a indústria, pode atingir Estados, pode atingir usuários — afirmou.
A audiência pública contou com representantes da indústria, um dos setores considerados clientes em potencial da tecnologia 5G. Uma das preocupações nesse segmento é que a evolução tecnológica provoque cortes de postos de trabalho.
Para Marcela Carvalho, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a tecnologia deve proporcionar “maior flexibilidade, versatilidade, redução de custos e aumento de produtividade” para os empresários. Para ela, o aproveitamento dos trabalhadores vai depender de capacitação pelo poder público.
— Estima-se que a chegada do 5G na indústria deve gerar a criação de 200 mil novos empregos formais. A criação vai se dar com certeza. Mas saberemos aproveitar esses empregos? Isso vai depender das politicas públicas para treinamento e qualificação dos profissionais que atuam hoje nessas fábricas, de forma que eles consigam operar um mundo em que essa tecnologia é uma realidade. Haverá criação de empregos e substituição de empregos. O que se diz no mundo inteiro é que o saldo será positivo, mas o governo precisa atuar no sentido de treinar sua mão de obra — avalia.
Segundo Renato da Fonseca, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 48% das empresas brasileira utilizavam em 2016 pelo menos uma de 18 tecnologias digitais pesquisadas. Em 2021, elas são 69%. Para ele, o baixo incentivo público à inovação e a falta de trabalhadores qualificados ainda são desafios para a implantação da chamada quarta revolução industrial no Brasil. Fonseca admitiu a possibilidade de cortes em postos de trabalho no país a curto prazo.
— Desde a primeira revolução industrial, existe esse medo da perda de empregos para as tecnologias. Mas, quando a gente olha uma série longa de taxa de desemprego no Reino Unido, ela pouco muda. No longo prazo, novos empregos aparecem. Nas, no curto prazo, tem um custo sim. Quando a gente tira 100 cortadores de cana e substitui por uma colheitadeira só precisa de sete pessoas qualificadas. Como faço para realocar aqueles 100 trabalhadores em um país em que a maioria não tem uma educação adequada? O investimento para recolocação é importantíssimo, e um programa de renda mínima é essencial para receber essas pessoas — disse.
Para Marcelo Motta, diretor de segurança cibernética da Huawei na América Latina, as redes 5G podem ajudar a reverter uma tendência de queda na produtividade das empresas brasileiras.
— A indústria perdeu produtividade na ultima década, e a gente tem a oportunidade de usar a tecnologia 5G para trazer mais competitividade. O impacto econômico dessa tecnologia pode gerar um crescimento de 2,5% ao ano no setor privado em 15 anos consecutivos. É uma contribuição de 40% ao Produto Interno Bruto brasileiro na indústria, na mineração e na agricultura — explica.
Segundo Jacqueline Lopes, diretora de Relações Institucionais da Ericsson para a América Latina, o potencial de receitas com o processo de digitalização é de R$ 391 bilhões até 2030. Desse total, R$ 153 bilhões são relacionados apenas ao 5G.
— Esse valor não traz benefícios somente para o setor de telecomunicações. Ele é transversal. É um vetor de transformação em diversos segmentos, como saúde, indústria, segurança pública e educação. Esses setores vão ter um aumento de conectividade entre 65% e 85% até 2030 — estima.
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