Quem acompanhou a CPI da Pandemia não faz ideia do volume de trabalho taquigráfico para divulgar as discussões em tempo real. Entre 13 de abril e 26 de outubro deste ano, uma equipe especializada roteirizou e degravou 390 horas de reuniões da comissão.
Com a adesão ao modelo digital, os taquígrafos do Senado deixaram de depender do bloquinho de notas para fazer seus registros das discussões que acontecem na Casa. Além de propiciar mais transparência e celeridade, a tecnologia possibilitou que esses profissionais se adaptassem ao teletrabalho em tempos de pandemia.
Parte dos diários, onde são guardadas as notas taquigráficas, datam do início do parlamento, em 1824. A diretora da Secretaria de Registro e Redação Parlamentar, Quésia de Farias, lembra a importância dessa continuidade histórica. Como exemplo, ela cita o uso das notas durante a CPI da Pandemia.
— O registro escrito é o único que é indexável e, por isso, é a fonte mais lembrada e rápida para pesquisas históricas. Durante a CPI da Pandemia também tivemos exemplos de uso, uma vez que vários senadores recorriam às notas para levantar questões de ordem e esclarecer dúvidas. As notas taquigráficas são oficiais, têm fé pública e colaboram para a transparência do processo legislativo — afirma.
Para registrar as notas taquigráficas, os profissionais do Senado usam o sistema Escriba, que permite fazer tudo pelo teclado, sem precisar utilizar o mouse. Isso torna o processo mais rápido. O programa deu tão certo que foi exportado para a Câmara dos Deputados.
E ganhar tempo é mesmo necessário. Uma fala de 20 minutos, por exemplo, é degravada por cinco profissionais diferentes, simultânea e sucessivamente, cada taquígrafo registra um trecho de quatro minutos. E, para que não se percam no registro, um outro profissional é previamente destacado para roteirizar a sessão. Depois de transcrito, o texto é revisado e, por fim, passa pela montagem final das notas.
A taquigrafia é um sistema de escrita abreviada, mas a transcrição do texto oral para escrito não é tarefa simples, especialmente porque deve existir respeito e fidelidade à fala do parlamentar. É preciso ser fiel e interferir o mínimo possível, além de atentar para a gramática e a norma culta, explica Quésia.
Ela lembra que, embora o Senado não conte mais com uma área denominada “taquigrafia”, o profissional formado neste método é aquele que geralmente tem as habilidades necessárias para realizar bem o trabalho. Quem ocupa esse cargo, atualmente, é chamado de analista de registro e redação parlamentar.
— É preciso conhecer muito bem a Língua Portuguesa e ter muita propriedade no uso da pontuação, que dá o sentido à fala. Além disso, foco, resistência, memória, resiliência e boa audição são características imprescindíveis para os profissionais desta área. Mesmo em revezamento, são longas horas de trabalho e é preciso ter “ouvido de taquígrafo” para fazer o reconhecimento vocal dos parlamentares, que muitas vezes têm falas sobrepostas— explica.
As notas taquigráficas compõem o Diário do Senado Federal e a ata das reuniões das Comissões. Elas ficam disponíveis no portal do Senado, na área de Atividade Legislativa, e no site Senado Multimídia, que disponibiliza o registro dos trabalhos legislativos em áudio e vídeo.
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