A manutenção de medidas de biossegurança e a adoção de protocolos sanitários poderá contribuir para a retomada do turismo e assegurar a realização de eventos voltados a um público mais amplo e a celebração de festividades. A avaliação foi feita pelos convidados da 14ª Mesa do Ciclo de Debates sobre o Turismo, com o tema: "Turismo Religioso: Os Caminhos da fé no pós-pandemia", promovido nesta segunda-feira (6) pela Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR).
Proponente do debate e presidente da CDR, o senador Fernando Collor (Pros-AL) apontou a relação crescente entre atividade turística e espiritualidade. Além de citar a devoção popular, Collor observou que locais de romarias e festividades sempre fizeram parte da vida do brasileiro e contribuíram para a definição da identidade nacional. Em 2019, haviam 513 comemorações inscritas no calendário nacional de eventos, das quais 96 são consideradas de grandes proporções, disse Collor, ao apontar a importância do turismo religioso no país.
— Em Aparecida, estima-se que 10 milhões de fiéis vão para lá a cada ano. Há mais de 300 destinos religiosos no Brasil, e não surpreende [que o segmento] tenha movimentado 20 milhões de viagens por ano, gerando quinze bilhões de reais para todo o país — afirmou.
Collor ressaltou que o turismo religioso é atividade crescente não só na vida de cristãos, mas entre evangélicos e seguidores de religiões de matrizes afro-brasileiras e orientais. O senador destacou ainda que o Brasil “felizmente é um país de convivência tolerante entre religiosos”, o que favorece um cenário auspicioso para o avanço do turismo religioso no país. Ele ressaltou ainda que um número considerável de pessoas e pequenas empresas dependem da atividade turística religiosa em cidades menores, que, mesmo ocorrendo de forma sazonal e pontual, possui a capacidade de gerar renda durante todo o ano.
— Locais como Aparecida (SP), Juazeiro do Norte (CE), Salvador BA) e Nova Trento (SC) são exemplos que podem nos ajudar a pensar a questão do turismo religioso nos caminhos da fé no mundo pós-pandemia. O novo normal que estamos construindo exige adoção de protocolos rígidos de segurança sanitária e medidas protetivas para evitar aglomerações — afirmou.
No início da reunião, Collor manifestou preocupação com medida anunciada pelo governo argentino que, em sua avaliação, pode afetar de maneira negativa o intercâmbio de turistas entre Brasil e Argentina.
— A atividade turística entre Brasil e Argentina requer previsibilidade e esforços permanentes no sentido de sua ampliação. A proibição de que empresas e bancos argentinos financiem a aquisição de produtos turísticos para o exterior vai em sentido contrário à crescente ampliação pela qual temos trabalhado arduamente nos dois lados de nossas fronteiras, fronteiras, aliás, que têm sido cada vez menos linhas de separação para se tornarem pontos de encontro e de convergência. Estou convencido que, nos tempos atuais, são a integração e a cooperação, e não o isolamento, os caminhos para superar as dificuldades conjunturais nos dois países, que sempre caminharam de maneira amistosa e solidária e, assim, haverão de continuar — disse Collor.
Diretora de Inteligência Mercadológica e Competitiva do Ministério do Turismo (MTur), Nicole Facuri, ressaltou que o turismo religioso se configura pelas atividades decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa, sendo responsável pela vinda de 26,4 mil turistas estrangeiros ao Brasil, em 2016, de acordo com os últimos dados do governo relativos a esse segmento. Anualmente, são feitas 17,7 milhões de viagens domésticas movidas pela fé apenas por turistas, sem levar em conta as viagens de excursionistas (aqueles que não pernoitam nos locais que visitam).
— São mais de 300 destinos nacionais que foram mapeados pelo Ministério do Turismo. O setor é marcado pela grande informalidade na prestação de serviços. O consumidor desse segmento, em sua maioria, tem o hábito de viajar em excursões. O turista é de menor poder aquisitivo. No turismo de peregrinação o gasto é baixo devido a própria motivação, o que não o torna menos importante. Os novos produtos demandados são as peregrinações em locais abertos e em contato com a natureza, em que o percurso possa ser feito a pé ou de bicicleta — afirmou.
Em sua exposição, Nicole defendeu a adoção de parcerias público-privadas para dar suporte financeiro ao turismo, com ações que sejam capazes de agregar o máximo das unidades federadas possível, dada as dimensões continentais do Brasil.
— É ilusório pensar que apenas o governo consegue realizar todas as ações necessárias, todos os vieses de estruturação da atividade turística. É muito importante que a gente tenha estrutura maior para trabalhar a questão das parcerias público-privadas, mas pensar também nas pequenas e médias parcerias, isso é muito estratégico para o país — afirmou.
Gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres, em Salvador, por onde circulam 43 mil pessoas mensalmente, Márcio Didier apontou o diferencial da diversidade, o que favorece o acolhimento do turista de todas as práticas religiosas.
Representante do santuário, Rosa Brito disse que 43 mil pessoas passam mensalmente pelo local, cujos responsáveis vêm atuando também na organização da comunidade local, como forma de ampliar a execução de políticas públicas nas áreas de infraestrutura e hospedagem, entre outros setores.
Carlos Augusto Silveira Alves, Turismólogo e mestre em Turismo Religioso, disse que é importante trabalhar a possibilidade de fazer com que o turista vá mais vezes ao destino religioso, e não apenas durante o evento consagrador, que costuma reunir milhares ou milhões de pessoas em um dia específico.
Alves destacou que o turismo doméstico está compensando a retomada das atividades do setor no pós pandemia. Como exemplo, ele citou o movimento ocorrido na região das Missões, no Rio Grande do Sul.
— Essa retomada está maravilhosa, esses feriados foram maravilhosos. Recebíamos muitos turistas aqui. Com a pandemia parou, mas este peregrino não parou de vir. Hoje o que está acontecendo é o turismo de curta distância. As pessoas já não estavam viajando para destino longínquo. E aqui estamos recebendo turista num raio de duzentos quilômetros, pessoas que não vinham aqui. Esse movimento, para mim, é irreversível — concluiu.
Na próxima segunda (13), às 18h, a CDR realizará a 15ª e última mesa de debate sobre turismo, desta vez para discutir as perspectivas do setor para 2022 com representantes das empresas aéreas, da hotelaria e agências de viagem.
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