A CPI da Pandemia marcou para a próxima semana os depoimentos do ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e do assessor internacional da Presidência da República Filipe Martins. De acordo com senadores que pediram as oitivas, os dois são suspeitos de integrar um gabinete paralelo (ou "gabinete das sombras"), grupo extraoficial que aconselharia o presidente Jair Bolsonaro sobre a covid-19. O depoimento de Terra está previsto para terça-feira (22) e o de Martins, para quinta-feira (24).
Senadores aprovaram inicialmente a convocação do deputado federal Osmar Terra, mas a convocação foi convertida em convite após pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira, à CPI. O convite permite que Osmar Terra decida por não comparecer ou deixar a reunião a qualquer momento. A oitiva de Terra atende a requerimentos dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Humberto Costa (PT-PE), Rogério Carvalho (PT-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O convite foi aprovado depois da divulgação, pelo site Metrópoles, de um vídeo que mostra uma reunião entre defensores do tratamento precoce para a covid-19 e o presidente Jair Bolsonaro. Segundo os senadores, as imagens apontam que Osmar Terra seria o mentor intelectual do grupo.
Em entrevista nesta sexta-feira (18), Randolfe, que é vice-presidente da CPI, afirmou que o colegiado já tem algumas certezas — entre elas, a existência desse gabinete paralelo:
— O "ministro" desse gabinete vai estar aqui na terça-feira — disse Randolfe.
Além disso, senadores destacam que o deputado, próximo ao presidente, fez manifestações públicas minimizando os impactos da covid-19 e defendeu medidas como “imunização de rebanho” como forma de enfrentamento da pandemia.
Já Filipe Martins terá que explicar aos senadores sua participação em uma reunião com representantes da farmacêutica Pfizer. Em depoimento à CPI, o ex-CEO da empresa na América Latina, Carlos Murillo, revelou que representantes da Pfizer tiveram uma reunião com o ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wanjgarten, da qual também participaram o vereador Carlos Bolsonaro e Filipe Martins. Segundo Humberto Costa e Rogério Carvalho, a participação do assessor nessa negociação reforça a tese da existência de um “ministério paralelo” ao Ministério da Saúde. Alessandro Vieira também assina pedido para ouvir Martins.
— Ele também é um dos integrantes do gabinete do ódio, das fake news. Os personagens se repetem. Causa-nos estranheza a participação do assessor na negociação de vacinas — apontou Randolfe nesta sexta.
Entre os dois depoimentos, a CPI da Pandemia agendou para quarta-feira (23) a oitiva de Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, empresa investigada por intermediar a compra da Covaxin pelo governo federal. O processo de aquisição do imunizante fabricado pela indiana Bharat Biotech foi o mais célere de todos, mesmo com dúvidas em relação à eficácia. Segundo Alessandro Vieira, é necessário apurar se houve algum tipo de beneficiamento ilícito na negociação.
Já na sexta-feira (25), estão agendados os depoimentos de Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional e representante do Movimento Alerta, e Pedro Hallal, epidemiologista, pesquisador e professor da Universidade Federal de Pelotas.
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