Tão rápidas e destrutivas quanto o próprio coronavírus, as notícias falsas (fake news) têm prestado um grande desserviço no enfrentamento à pandemia, enquanto, na contramão, as campanhas de comunicação sobre a covid-19 caminham a passos lentos. Essa discrepância foi destacada por senadores que debateram o assunto em reunião na Comissão Temporária da Covid-19 (CTCOVID), nesta segunda-feira (5).
Relator da comissão, o senador Wellington Fagundes (PL-MT) ressaltou que o assunto é de imensa preocupação para todos.
— O esclarecimento da população é fundamental, principalmente nessa questão, que a cada dia tem informações desencontradas. Essas informações, corretas ou incorretas, podem salvar vidas ou contribuir para a doença e a morte.
O senador destacou que a infodemia, definida como excesso de informação, torna difícil encontrar fontes idôneas, o que colabora para a desinformação da sociedade. Ele lembrou que 132 países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) ratificaram, à exceção do Brasil, uma declaração para o combate a essa propagação infodêmica.
Wellington enfatizou que há inclusive participação de agentes ou instituições públicas na divulgação de notícias falsas ou desencontradas, além de omissão na divulgação de informações necessárias para o combate à crise pandêmica.
Diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Frank Márcio de Oliveira observou que as notícias falsas não são um fato novo e foram amplamente utilizadas em campanhas eleitorais em todo o mundo.
— Atualmente, o aumento de fake news ocorre por conta da própria agilidade das redes sociais. Não existe vácuo informacional: as pessoas preferem compartilhar notícias falsas a admitir desconhecimento sobre o assunto.
Segundo Oliveira, a Abin coopera com serviços estrangeiros de forma rotineira e reforçou o intercâmbio na temática da saúde, tendo como um dos principais focos as estratégias de enfrentamento à desinformação e as campanhas de vacinação.
Oliveira afirma que parte das campanhas de desinformação (caracterizadas pela produção e propagação massiva de notícias falsas) tem entre seus objetivos manipular a opinião pública e desprestigiar as instituições, bem como obter vantagens econômicas ou políticas.
Para o diretor da Abin, o Senado teve um importante papel ao aprovar o Projeto de Lei (PL) 2.630/2020. Conhecido como projeto de Lei das Fake News, o texto está agora em tramitação na Câmara.
Diretor de mídias da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do Ministério das Comunicações, Ricardo de Freitas Martins da Veiga afirmou que desde fevereiro de 2020 o governo federal investiu cerca de R$ 400 milhões em campanhas anticovid.
— A Secom começou com suas campanhas em fevereiro de 2020, ainda fazendo um esclarecimento sobre o novo vírus e medidas de prevenção e orientações nos casos de suspeita de contágio, com ações em TV, rádio, internet, mídia exterior.
Já o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jerônimo de Sousa, destacou que a imprensa acompanhou as orientações da ciência, o que “infelizmente não foi o caminho adotado pelo governo Bolsonaro, que escolheu o negacionismo”.
— Isso resultou em imensa tragédia. Diversos estudos apontaram que muitas perdas poderiam ter sido evitadas se as orientações da ciência fossem seguidas.
A redução orçamentária na educação e no setor de ciência e tecnologia é um sério problema, em especial no período pandêmico, segundo o presidente da ABI. Sousa destacou ainda o fato de 164 jornalistas brasileiros já terem perdido à vida para a covid-19.
A reunião remota foi conduzida pelo vice-presidente da comissão, senador Styvenson Valentim (Podemos-RN).
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