Tatus, onças pardas e baleias são alguns dos animais encontrados no Ceará e que integram um dos primeiros inventários de fauna realizados em âmbito estadual no Brasil.
A iniciativa é a primeira etapa para um projeto maior, o Livro Vermelho, com a lista das espécies ameaçadas de extinção no estado. Já em elaboração, esse documento deve ser lançado até 2022.
Nesta sexta-feira (26), o Inventário da Fauna Cearense foi oficialmente lançado e está disponível para consulta online. Ao todo, foram catalogados por pesquisadores 115 mamíferos continentais, 25 mamíferos marinhos, 443 aves, 133 répteis, 57 anfíbios, 400 peixes marinhos e 102 peixes continentais, que totalizam uma lista de cerca de 1,3 mil espécies de vertebrados.
Para o coordenador do projeto, o professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Hugo Fernandes, o levantamento mostra como é diversa a fauna cearense e o quanto ela precisa ser preservada. Ele conta que o estado abriga espécies que, fora dali, só são encontradas na Amazônia, como o tucaninho da serra.
“O Ceará está no Nordeste brasileiro e isso, infelizmente, faz com que o imaginário nacional julgue que aqui é um local muito hostil à vida silvestre. Pensa-se em solo rachado, mas, na verdade, isso é um componente muito pontual. Um componente natural é um ambiente extremamente heterogêneo, a caatinga é um ambiente heterogêneo, você tem florestas na caatinga, tem campos abertos, tem matas úmidas. Tem Mata Atlântica no Nordeste brasileiro. Aqui temos Mata Atlântica e uma influência amazônica nas nossas serras”, disse.
O inventário foi feito em parceria pela UECE, Universidade Federal do Ceará (UFC) e Aquasis. Foi financiado pela Fundação Cearense de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico no âmbito do Programa Cientista-Chefe de Meio Ambiente em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará.
Uma novidade em relação a outros levantamentos feitos no país é que ele será atualizado pelos pesquisadores envolvidos em tempo real, sempre que novas espécies forem registradas. Está prevista para as próximas fases a introdução dos grupos de invertebrados e da flora cearense.
“O meio ambiente, de uma maneira geral, tem que ser preservado. Nós temos que quebrar um ciclo que a humanidade traçou há muito tempo. A história mostra que o homem já dizimou várias espécies de animais. Dizimou várias espécies de vegetais durante o processo evolutivo da humanidade. Acho que temos que ter muita consciência em relação à preservação do meio ambiente. Isso é vital para a sobrevivência digna do ser humano”, afirmou o vice-reitor da UFC, José Glauco Lobo Filho.
O inventário é o passo inicial para listar as espécies ameaçadas de extinção no estado. Segundo Fernandes, primeiro foi feito esse levantamento, com critérios científicos das espécies encontradas no Ceará. Agora, os pesquisadores irão analisar a situação das populações de cada uma delas.
A iniciativa é baseada no Livro Vermelho nacional. Em 2018, o Brasil atualizou os levantamentos das espécies em extinção feitos em 2003, 2004, 2005 e 2008. Com 4,2 mil páginas, o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, divulgado no início de 2019 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), lista 1.173 espécies de fauna ameaçadas de extinção no país. A publicação é uma referência sobre o status de conservação de 12.254 espécies.
Fernandes explicou que, além de listas internacionais e nacionais, é importante saber a situação dos animais em cada localidade. “As ameaças são locais, principalmente. Uma espécie que está na categoria menos preocupante no Brasil pode estar criticamente ameaçada dentro de um estado. Se as políticas públicas não olharem para isso, só para o nível nacional ou internacional, a gente vai perder espécies. Vamos ver espécies sendo extintas localmente”, explicou.
O secretário do Meio Ambiente do estado, Artur José Vieira Bruno, participou do lançamento online e se comprometeu a desenvolver políticas públicas para proteger as espécies ameaçadas. “Nós vamos e estamos trabalhando para termos aqui a lista vermelha. Queremos saber quais os animais que estão ameaçados e os que estão em extinção no Ceará e queremos isso para logo. Nossos cientistas estão trabalhando, pesquisando. Com isso, vamos desenvolver políticas públicas de preservação desses animais”, finalizou.
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