A resistência, a diversidade e a beleza de mulheres ciganas de Mato Grosso podem ser vistas na Exposição Multimídia Calin, já disponível em plataforma digital. O trabalho registrou ciganas da etnia Calon, que no estado se autodenominam Calin. São mulheres de diferentes idades, em uma mostra que propõe novas possibilidades do que é ser Calin, cigana, mulher, mato-grossense e brasileira.
A exposição Calin é um dos produtos transmídias que integram o projeto Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã; aprovado no edital Conexão Mestres da Cultura, da Lei Aldir Blanc, da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT). O projeto foi proposto pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (Aeec-MT), e homenageia a raizeira e benzedeira cigana Maria Divina Cabral, a Diva, como mestra da cultura mato-grossense.
A exposição une as famílias da mestra Diva e suas parentes Nerana, de Tangará da Serra; Irandi e Terezinha, ambas de Cuiabá; e Nilva, da cidade de Rondonópolis. Todas elas são consideradas mestras da cultura cigana, pois conservam os saberes, as filosofias e as identidades dessa cultura milenar.
Além de mostrar a diversidade, o projeto busca registrar e valorizar seus significados, tradições e saberes. Também é uma forma de combater estereótipos e preconceitos sobre as mulheres ciganas.
Segundo os realizadores, trata-se da primeira exposição multimídia com foco no universo das mulheres ciganas Calon do país.
“O material multimídia exposto é resultado de um encontro sutil e delicado entre nossa equipe e o modo como nos vemos, nos mostramos e, principalmente, queremos ser vistas. Assim, brindamos o público com novas autorrepresentações do universo romani, especialmente do tronco étnico Calon. Esperamos que a plataforma se transforme numa referência nacional, quiçá internacional”, disse a coordenadora geral do programa, Fernanda Alves Caiado, presidente da Aeec-MT.
A teoria mais aceita entre os estudiosos é que os ciganos têm origem na Índia, a partir de uma dissidência de castas no país asiático, há cerca de mil anos, que fez com que o grupo se espalhasse primeiro pela Europa e depois para as demais partes do mundo (diáspora). No Brasil, acredita-se que os primeiros ciganos chegaram em 1574 ou um pouco antes, segundo registros dos padres jesuítas.
Há três etnias mais importantes: os Calon, grande maioria no país, oriundos da Espanha e Portugal, os Rom, com origem na Romênia, Turquia e Grécia, e os Sinti, que vieram principalmente da Alemanha e da França.
Em fotos, vídeos e textos, Calin vislumbra a criação de novas narrativas para que mais mulheres ciganas se inspirem e possam criar os próprios caminhos, informa a associação. O site é composto por menus explicativos apresentando a exposição, o projeto, a mestra Diva, e as mulheres que participam do trabalho. Além disso, disponibiliza vídeos e links para o blog e redes sociais da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso.
“Apresentamos um universo ora onírico, ora de realidade, que se revela através da compreensão feminina de uma cultura milenar de resistência, cuja medicina tradicional se baseia na natureza. Como as raízes profundas das árvores retorcidas e sertanejas do cerrado, que resistem ao fogo e a seca, produzindo flores e frutos, as mulheres ciganas produzem cultura e cura que precisam chegar a mais e mais pessoas, ainda mais nesses tempos em que vivemos de pandemia, em que a saúde tornou-se uma questão central”, enfatiza a fotógrafa e curadora, Karen Ferreira.
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